25.12.13

Blanche 5: Montanha dos Caprinos

Na nubívaga montanha dos caprinos é sábado no horizonte encandecido: Troca de rodízio. Scott, todo aprazível, desce à pradaria, para amanhã cedinho alçar o dileto Eric.
Ele e Blanche carregam o carroção com os famosinhos queijos ervados. Suas roupas limpas, dobradas, vão num balaio de taquara, frutinhas silvestres como concussão às crianças de Peter.
O inverno se aproxima e a lavorosa dupla fez reparos na cabana de troncos (e no anexo): Vedaram com cera de abelhas todas as frestas, reforçaram o telhado, que admira os entreveros de luz e trevas.
Faxinaram por completo, aproveitando as tardes ainda soalheiras. A despensa, na mansarda da cabana, num aroma inenarrável, tem fartura de frutas secas, abóboras maduras, castanhas, mel, caça defumada.
O pequeno jardim, ainda verdejante, salpica-se cá e acolá com florzinhas silvestres, que se jogam ao sol. Os três cães pastores ainda estão adiposos e fortes: buscam facilmente seu próprio alimento.
A garota acha-se repleta em ansiedade a cada cinco semanas, absoluta teofania: Eric, o fulgor, está por vir, enquanto a brisa dialoga sobre ele com a montanha!
Preparou ambrosia de cabras com rapadura. Não se obliterou de Sara - deitou um bocado na cabaça para Scott entregar-lhe. Foi ngolindo o aroma com terrena satisfação.
O estrépito do carroção faz balir o rebanho, é hora de iniciar a descida, para não perder a preciosa insolação. Um último buquê daquela árvore perfumosa: É para Colen, a apreciada caseira, de todo coração.
A passagem arriscada, pela falda tão íngreme e com pedras soltas, faz Blanche recomendar prudência a seu protegido, ela tem "pensão" por ele neste percurso traiçoeiro, com curvas carrancudas.
Mais de uma hora ziguezagueando e sacolejando, forçando os dois cavalos robustos que puxam o carroção rabugento. Nada maléfico acontecerá, e na manhãzinha, a vinda do arco íris - Eric!
A paixão inocente, inequícia e transcendental da garota, se contrapõe a um amor amadurecido e rabiscado, transido em sensação de torpeza, pecado e sigilo por parte de seu estimado.
Após os derradeiros afazeres, ela adentra a cabana, senta-se na escadinha de tábuas vazadas e convoca os cães. O sol se pôs sem adeus e a mantilha da noite cobrirá ligeiro o horizonte.
Tudo é serenidade, está ensimesmada; nem o insistente tamborilar da tribo no oposto da cadeia montanhosa, saudando a mudança em quarto de lua, a dissolve em outro pensar.
Já na enregelada noite fechada, acalentar-se é conveniente. Não há medo, nem solidão. A menina mestiça é pura expectativa, enquanto dialoga com dentro de si.

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