25.12.13

Blanche 13: Encontro entre Blanche e Eric

Após se esgueirarem por duas horas na trilha “Deus me livre”, onde o vento brame incessante, enfim Blanche vê Eric. Traz no pé esquerdo, um rasgo desbeiçado, coxeando num cajado.
Não subiu e não resguardou, há trabalho demasiado. Nestas montanhas não se sucumbe ao sofrimento, apenas degusta-o. 
Apartam-se sorrateiramente do grupo. Ela o admoesta quanto ao desvelo ao ferimento, e ele sorri a dizer que não pode ser assim tão séria aos dezesseis, pois quando sucumbir à terra, ela ainda flutuará em juventude.
Blanche irrompe em murros como furação, ao dorso dele; abomina esta inexorável realidade. Eric aclara que se cruzaram em direções avessas na trilha vitalina: Ela sobrevindo e ele afastando-se.
Estão temporalmente distantes, e o tempo é implacável. Há vinte anos, seu ferimento não decorreria de uma denunciante cicatriz, conquanto agora ainda lhe vem a febre. Eis a bravia regra do jogo etário. 
O ferreiro Occan costura com espinho de laranjeira, todavia a ferida necessita estar fresca, e o candidato, ébrio a toneladas para se desvencilhar da dor!
A castanha linha de crina de equinos, fina e sedosa, arremata a carne dilacerada, num remendo firme. O ferido, torturado às ultimas forças, desmaia e se refaz, intermitantemente.
Eric não pratica estas detalhices. Colen vai marinando seu pé em réstias de ervas todas as noites. 
Então Verna se aproxima, enfia os dedinhos do pé esquerdo em terra solta, tímida; o “almojantar” está servido.
Nestas paragens, a refeição quente e substanciosa é servida pouco antes do por do sol, não importando a hora-relógio. Então cessa-se o lavor, para o refastelamento familiar noturno. 
Mandiocas cosidas a quase se desmanchar, o guisado de coelhos e salada multicor, acompanhados de leite fresco, angariado por Tom às ovelhas tagarelas.
Os favos de mel, sendo mastigados de leve, expelem um exótico eflúvio das fezes secas dos caprinos, a que são retiradas pelas abelhas para o fabrico da iguaria. 
Após o repasto, Walacy tocou insoluvelmente sua gaita. Ao todo, doze pessoas dançaram no amplo salão: Peter, Sara e os três rebentos, Blanche, os caseiros, Tom, e os moradores da casa, Eric, Nick e Scott.
Seguiram-se duas horas de descontração, que são reverberadas a cada visita da garota. Os homens, tão rústicos, se albergam pelos cantos do salão até o dia alucidar.
Na zona rural, andar a pé à porta da meia-noite aduz mal agouro, então não se volta `as cabanas. Sara e Colen adormecem num dos três dormitórios; necessitam descanso profundo, pois prepararão o desjejum antes do primeiro relampejo de aurora surgir.
Sara, franzina, tropeça na penumbra da gravidez, aguardando à luz seu último bebê, todavia não é motivo para esmorecimento. Sempre enviesando um sorriso tremido com a boca vergada. 
Blanche se acalenta covilmente com as crianças, diz remediar a saudade dos irmãos. Conta-lhes histórias indígenas repassadas pela avó.
É uma folia aguardá-la nessa região desprovida de visitação. O trio de irmãos espreita com volúpia cada olhar, cada toque e cada feixe de voz da adolescente tia.

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