25.12.13

Blanche 10: Nick ama Tom loucamente

Já estamos em meio à semana! Nick então confidencia a Blanche (e somente a ela), sua longínqua paixão secreta por Tom. Expõe sua felicidade resignada, visto que se encontra totalmente confortável naquela relação platônica. 
Expõe ainda a complexa amargura de Ariadne, a filha primanata de Willy, o cuidador de cavalos do vilarejo, que logo se casará (forçosamente) com um desconhecido da cidade grande, amando a ele, Nick, desde que vivia em trançinhas.
Somente escaparia à sina, fugindo dali na surdina da madrugada, todavia para onde? Quem acolheria uma desgarrada (vista como desonrada)? O que seria feito dela numa terra androcêntrica?
Certa vez, uma menina púbere escapoliu por este motivo, para território indígena. Fora estuprada até a morte por índios adolescentes, que arremessaram suas vestes ensanguentadas em frente à igreja da vila, numa madrugada, como forma de troféu (são misóginos para com as brancas).
Os moradores locais acordaram com a gritaria bugre a galope. Tamanha barbárie em plenos idos de 1880...
O pai permutará Ariadne por três cavalos: Uma parelha e um montador. É hábito local estas práticas de dotes em forma de cabeças de animais. Quanto mais jovem e bonita, ou mais velho e deformado o candidato, mais animais.
A garota, com aquela resignação no olhar, é certa que necessita aceitar, pois estará contribuindo sobremaneira com a família, repondo parcialmente todo trabalho despendido em sua criação. 
Fisicamente, Nick é baixo, loiro, olhos na cor mel aguado, penetrantes. Um pouco obeso para os padrões locais. Cabelo levemente esvoaçante, boca miúda e pálida, nariz delgado, com gestos brandos. Anda num leve chacoalhado. 
Ele reservou uma surpresa a Blanche: A avó lhe enviara por presente, um saquinho em tecido, todo com bordados geométricos, nos fios tingidos por ela em castanho, ocre e encarnado. 
A garota abre... Está apinhado com suas favoritas cerejas bravas secas, colhidas pelos irmãos às margens do suntuoso “Rio Orgástico” (pela tradução indígena). 
Sabor de aconchego! De infância ditosa... É a sensibilidade de Nick a lhe proporcionar tanto arrebatamento. Arregaça com os polegares a borda do saquinho e sorve lentamente o aroma concentrado. 
Os dois pés estão unidos por sobre a moitinha de capim, que macetou propositalmente, o corpo arcado para trás, cerra os olhos e ergue a prenda com ambas as mãos. Nick vê graça naquilo... 
Blanche arrasta-o pela mão direita, voando para o assoalho da varanda. Acomodados, vão degustando cada fruto, enquanto decifram esculturas de nuvens felpudas no horizonte leste. Os carocinhos chupados, ela amontoa num canto, sabe-se lá para que! 
Tudo é pacificação num deleitoso olhar sedentário. As casinhas do vilarejo, bem lá embaixo, estão mínimas no crepúsculo. As chaminés cuspindo branca fumaça, formam trilhas sinuosas a interligar-se no firmamento.
Então Nick retira do bolso, o último folhetim de Corda Bamba, e lê para Blanche, as quatro páginas com crônicas, notícias, reclames, e um misterioso conto, mostrando-lhe encantadoras figuras em preto e branco. 
O mais inacreditável para ela, que somente conhece uma mulher alfabetizada (Charlote), foi saber que justamente uma moça, escreve periodicamente os aguardados contos para o jornalzinho.

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